terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Eleições 89 Ato 1: Na Pré-História

Última Hora, 06/09/1961
A Opção Brizola - Parte I

Trocando em miúdos, Leonel de Moura Brizola, um gaúcho de Carazinho nascido Itagiba de Moura Brizola aos 22 dias de janeiro de 1922, foi o grande vencedor com a volta das eleições diretas. Afinal das contas, o herdeiro da linhagem política da Terceira República era a ameaça em carne e osso aos nomes que depuseram a sua linhagem ideológica em 1964, e sempre que algum governista moderado propunha a volta das eleições diretas para a presidência, a linha dura logo respondia que tal decisão abriria as portas para a volta de Brizola ao cenário político nacional. A anistia e a posterior reabertura política possibilitaram que Brizola retornasse à cena como governador do novo estado do Rio de Janeiro, eleito em 1982 em uma disputa apertadíssima contra a lacerdista Sandra Cavalcanti, o futuro governador Moreira Franco, herdeiro de Amaral Peixoto - o 'dono' do interior do Rio - e Miro Teixeira, que anos depois se tornaria brizolista, e era então candidato com o apoio do governador Chagas Freitas. Havia também a candidatura radical de Lysâneas Maciel, apoiado pela ultra-esquerda que então representava o Partido dos Trabalhadores. Assim, notamos que nem em um panorama tão apertado, que invibilizaria qualquer candidatura afora as quatro principais, o recém criado PT optou por se unir ao também novato PDT em torno da candidatura única das esquerdas. O radical Lysâneas acabou por inaugurar a tradição de derrotas do partido de Lula no Rio, e poucos votos obteve.
Como não havia o dispositivo legal do 2º turno, Leonel de Moura Brizola, então aos 60 anos, foi eleito governador mais uma vez: houvera governado o Rio Grande do Sul, muitos anos antes. As denúncias envolvidas no célebre 'Escândalo do Proconsult', suposta tentativa frustrada de fraudar o pleito em favor de Moreira Franco, nunca foram inteiramente esclarecidas, mas é inegável que a capacidade que Brizola encontrou para sensibilizar as camadas populares, em especial os moradores das favelas da capital fluminense e da região metropolitana, foi o ponto decisivo para a sua vitória. Em números finais, Brizola obteve 1.709.180 votos, isto é, 34,2% do total. Moreira Franco, então no PDS e apontado como vencedor pelas pesquisas de boca-de-urna, conseguiu 1.530.706 votos, com 30,6%. Miro Teixeira, do PMDB, foi o escolhido por 21,5% dos eleitores, Sandra Cavalcanti, em uma curiosa associação ao PTB, recebeu 10,7% nas urnas e o petista Lysâneas Maciel, apenas 3,1%. É interessante observar que naquela ocasião o PDT, nascido após a disputa judicial perdida pela posse da velha sigla PTB, conseguiu resultados expressivos em poucas capitais além do Rio de Janeiro. A outra votação expressiva ocorreu no Rio Grande do Sul, outro reduto brizolista, onde Alceu Collares ficou em 3º lugar com 22,9% dos votos, atrás de Jair Soares, eleito pelo PDS, e do senador Pedro Simon, do PMDB.

Apoteose ao Samba

Imagens: Rede Manchete
Narração: Paulo Stein


Desde 1978, e após passar por várias ruas cariocas como as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco, os desfiles das escolas de samba do primeiro e do segundo grupos eram realizados na Av. Marquês de Sapucaí, no bairro da Cidade Nova, localizado entre a região central e a Zona Norte do Rio. A mudança de palco se deu pela necessidade de um local mais amplo que pudesse abrigar o marcante crescimento das escolas em número de componentes e tamanho dos carros alegóricos, além da quantidade cada vez maior de funcionários da prefeitura, policiais e bombeiros envolvidos na realização do evento. Durante os seis primeiros carnavais na Sapucaí, quem passava pela Cidade Nova nos meses de janeiro e fevereiro presenciava um 'monta-e-desmonta' de proporções monumentais, uma vez que a capacidade das arquibancadas tubulares não era tão menor do que a depois adotada na construção do 'Sambódromo'. Uma das primeiras obras de impacto do governo Brizola foi a construção de um palco fixo para a festa, que envolveria um calendário de eventos culturais e educativos ao longo de todo o ano e teria a assinatura do arquiteto Oscar Niemayer. Os leitores cariocas sabem, o Sambódromo abriga um CIEP, iniciativa de Brizola para evitar que a monumental obra se transformasse em um elefante branco quando a quarta-feira de cinzas levasse os últimos foliões para casa. Por sinal, foi transferida na mesma época a gestão das escolas de samba: saía de cena a Associação das Escolas de Samba, que ficaria restrita aos grupos de acesso e abriria caminho para a LIESA, Liga Independente das Escolas de Samba, uma espécie de sindicato de contraventores e ex-contraventores, que se revezam há anos na presidência da entidade. Com a criação da nova entidade, ficou decidido que o carnaval carioca não acabaria na quarta-feira de cinzas: foi marcado para o sábado seguinte ao desfile de 1984 o chamado "Desfile das Campeãs", que reuniria as melhores colocadas do Grupo Especial e as duas melhores do primeiro grupo de acesso. Após este desfile-extra, seria realizada uma nova apuração, que daria à Mangueira o título de primeira - e última - 'supercampeã' do carnaval. Já no ano seguinte, 1985, o 'Sábado das Campeãs' serviria apenas para os festejos da escola vencedora e das melhores colocadas. Com a chegada de Brizola ao poder, torna-se forte a presença dos orgãos de gestão do turismo das instâncias estadual e municipal na administração do 'maior espetáculo da Terra'. E o novo governador, simpatizante confesso da verde-e-rosa, comemorou a sua primeira grande conquista com um campeonato de sua escola.

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